Home Editoriais Cidades Acidentes de moto são maior demanda na urgência pública  

Segundo o Huana, cerca de mil pacientes realizam atualmente algum tipo de procedimento na unidade, no pós-operatório de um acidente de moto, o que gera uma demanda altíssima

LUIZ EDUARDO ROSA

Acidentes com motocicleta se configuram na principal demanda do atendimento público de urgência na cidade de Anápolis. Há pelo menos três anos esse quadro não muda, sobretudo no Hospital de Urgências Dr. Henrique Santillo (Huana), principal destino desse tipo de ocorrência em toda a região.

Somente nesse ano, o Huana atendeu 400 vítimas de acidentes de motos, com o registro de 13 mortes. Além de causar traumas pessoais e familiares, os acidentes também consomem recursos públicos com o tratamento, além de retirar do mercado – temporariamente ou de maneira permanente – indivíduos em idade economicamente ativa.

“Em acidentes de carro, geralmente o dano é material, sem causar lesão no motorista ou passageiro. O mesmo não se pode dizer da moto, o corpo humano sofre o impacto da batida na mesma intensidade da máquina, devido ao nível de exposição”, explica o diretor geral do Huana, Luiz Cláudio Gonçalves.

Das 700 cirurgias realizadas mensalmente pelo Huana, 500 são ortopédicas. E entre os procedimentos dessa especialidade, mais de 50% são de acidentes envolvendo motocicleta. Geralmente são quedas, colisões com carros ou outras motos, postes, bicicletas, ônibus, caminhões e animais. No Huana são atendidas urgências vindas de 58 municípios que fazem parte da Regional Pireneus, mas a maior parte das ocorrências é de Anápolis mesmo, porque a cidade tem uma frota maior.

Entre 1º de janeiro e 23 de junho de 2015, o Huana registrou 401 atendimentos de vítimas de acidentes com motocicleta. A média é de 2,3 casos por dia. O número é alto, mas apresenta redução em relação ao mesmo período do ano passado, que nos primeiros seis meses teve 568 registros. O diretor Luiz Cláudio aponta que há aspectos a ser analisados: parte dos casos passou a ser atendido na UPA da Vila Esperança, por exemplo, e há a espera por leito no Hospital Municipal Jamel Cecílio.

“Um fato é decisivo, quando há períodos com maior oportunidade de consumo de bebidas alcoólicas, o número de casos de acidentes crescem, inclusive e principalmente os de motocicletas”, afirma Luiz Cláudio. No primeiro semestre de 2014, a Copa do Mundo gerou dispensas e até prolongamentos de folgas devido aos jogos do Brasil. Esse pode ser um fator para os quase 600 casos no primeiro semestre do ano passado, mas Luiz Cláudio pondera, e diz que é preciso um estudo mais completo.

Tratamento

As cirurgias em vítimas de acidentes com motos não são o único fator a gerar custos com ao atendimento de urgência na rede pública. O pós-operatório também onera o sistema. Atualmente cerca de mil pacientes realizam acompanhamentos ambulatoriais ortopédicos, como fisioterapia, por exemplo, depois de cair ou bater a moto. “O agravante dos acidentes de moto não são somente os óbitos e as cirurgias, mas também as sequelas”, afirma Luiz Cláudio. O paciente fica em tratamento de três meses a um ano, sem trabalhar e fazer suas atividades normalmente, gerando um impacto social, além do custo econômico de toda a estrutura mobilizada, do socorro no local do acidente ao pós-operatório.

O perfil de acidentados já é bem claro ao Huana: pessoas do sexo masculino e jovens.  No último dia 19, deu entrada no Huana um técnico de segurança de 18 anos vítima de um acidente. Ele pediu para não ter seu nome divulgado, mas falou sobre sua situação. “O acidente quando tem que acontecer, acaba acontecendo”, comentou o jovem sobre seu caso, que lhe custou uma fratura na perna.

Essa visão do técnico de segurança acaba se somando a um quadro em que ele reforça a hostilidade entre motos e carros. Há também o fator que diz respeito à vulnerabilidade do motorista e passageiro da motocicleta comparado aos outros veículos.

Para ter um cenário amplo dos atendimentos a acidentes com motocicletas em Anápolis, a reportagem entrou em contato com o diretor do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), e também diretor do Hospital Municipal Jamel Cecílio, Sérgio Marques, que alegou não haver tempo na semana para responder aos questionamentos do JE. Até o fechamento dessa edição, na sexta-feira (26), não houve retorno. A direção da UPA alegou que os casos de acidentes com moto já são notificados no destino de atendimento, sendo estes o Huana e Hospital Municipal Jamel Cecílio.

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