Home Editoriais Cidades Descaso com vacinação de crianças preocupa Secretaria de Saúde

Há alguns anos, as campanhas contra a poliomielite atingiam a meta de crianças imunizadas ainda no Dia D. Nesse ano, em 17 dias, Anápolis alcançou pouco mais da metade da meta

LUIZ EDUARDO ROSA

Há alguns anos, as campanhas contra a poliomielite atingiam a meta de crianças imunizadas ainda no Dia D. Poucos pais deixavam para levar seus filhos para tomar as gotinhas contra a paralisia infantil durante a semana – a dose era dada já no sábado, dia que invariavelmente é escolhido para a imunização em massa.

Hoje, a história mudou. A campanha contra a poliomielite teve que ser prorrogada, porque atingiu pouco mais da metade da meta (54%) estabelecida para Anápolis. Não se trata de um comportamento isolado da cidade, mas uma tendência mundial. Segundo o médico infectologista Marcelo Daher, assessor técnico da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa), esse descuido é um retrato claro da desinformação quanto aos cuidados com a saúde.

Em Anápolis, eram esperadas 23.031 crianças até cinco anos para serem imunizadas contra a paralisia infantil. Durante o período normal de campanha – de 15 a 31 de agosto – somente 12,5 mil tomaram a dose da vacina. E sobraram opções para levar as crianças: 61 postos de saúde faziam parte da campanha.

A meta estipulada no município é a da vacinação de 80% do público alvo. Já o Ministério da Saúde aponta 95% de cobertura como o ideal. “No caso das crianças, a campanha não tem somente a função exclusiva de uma só vacina, mas de atualizar o cartão de vacinação, aplicando e alertando sobre uma ou outra que falte”, explica Marcelo Daher.

Gravidade
O médico Marcelo Daher aponta três aspectos que influenciam na baixa procura. São eles a falta de responsabilidade das famílias, a desinformação gerada por meio das redes sociais na internet e a falta de experiência das gerações atuais com as doenças que foram controladas.

Mães e pais estão menos rigorosos com vacinas. Essa permissividade influência na hierarquia dentro do lar: quando a criança manifesta indisposição os pais acabam cedendo, e por fim por essa e outras circunstâncias o cumprimento de cuidados importantes à saúde são deixados de lado. “Estes pais não sabem a consequência que estes descuidos causarão no futuro a seus filhos. De certa forma isto pode ser temeroso em relação às gerações futuras com aparecimento de doenças que hoje estão controladas”, explica Daher.

Outro aspecto apontado pelo médico é a desinformação gerada por preconceitos e informações falaciosas. Tontura, febre e perda de sensibilidade nas pernas em 11 adolescentes de Bertioga (SP), em setembro de 2014, acabaram abrindo precedentes para alguns mitos. Nesse caso, o alvo foi a vacina contra o vírus HPV, direcionada para meninas. Para alguns, o objetivo era a esterilização em massa. Muita informação falsa nas redes sociais acabou resultando também na baixa procura, principalmente da segunda dose da vacina.

Essa rede de boatos, de alcance mundial devido a aplicativos como o Whatsapp, terá consequências. “O preço por essa negligência a população vai pagar, não a adulta atual, mas a infantil, em seu futuro”, aponta o infectologista.

O terceiro aspecto é a baixa percepção dessa geração em relação às anteriores que conviviam com doenças que hoje estão erradicadas ou controladas. Algumas ainda podem voltar, caso a cobertura vacinal seja diminuída, como é o caso da varíola. Há exemplos de surtos pelo mundo. Em fevereiro deste ano, o sarampo se espalhou em algumas regiões dos Estados Unidos a partir do parque da Disney, em Orlando, na Flórida. Essa proliferação da doença por lá é resultado da baixa procura por vacinas.

Em escala internacional o alerta gira no sentido de grande imigração de populações que fogem de seus países de origem, devido a guerras e catástrofes naturais. “Em países como os do Oriente Médio há uma rede de saúde que já vem atendendo essas populações com imunizações importantes, porém outros como os países do Caribe e da África o sistema é deficitário, apresentando mais risco para a disseminação de doenças para outras partes do mundo”, avalia Marcelo Daher.

O Haiti destruído por um terremoto em 2010 sofreu com surto de cólera. A partir de notícias, autoridades brasileiras vêm monitorando e dando assistência aos emigrantes nos pontos de maior ingresso dos haitianos ao Brasil.

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