Home Editoriais Cidades Bocas de lobo e galerias não suportam volume das águas

Antigas e de diâmetro reduzido, estruturas são insuficiente para dar vazão às chuvas, o que propícia alagamentos

LUIZ EDUARDO ROSA

As bocas de lobo e galerias já não fazem frente ao volume de água das chuvas em diversos bairros da cidade, principalmente nos mais antigos. Além da pequena capacidade dessas estruturas em relação ao escoamento das chuvas, é comum vê-las quase totalmente estupidas com o lixo atirado nas ruas e com detritos de construção civil. Comerciantes e moradores de diferentes pontos denunciam os prejuízos provocados pelos alagamentos tanto em imóveis quanto em veículos, que não raras vezes são arrastados pelas correntezas. De acordo com o poder público, a solução de maior eficácia, e também de custo mais elevado, é a implantação de galerias mais robustas em setores com grande demanda.

Parece contrassenso, mas as mesmas chuvas que eram esperadas para garantir o abastecimento da cidade são hoje o principal temor de moradores de muitos bairros que sofrem constantemente com alagamentos e enchentes. A comerciante Jéssica Raiene, 27 anos, explica que a cada ameaça de chuva intensa volta sua atenção às motos e carros estacionados, que podem simplesmente ser levados por uma enchente. Segundo ela, bastam 20 ou 30 minutos para que esse risco se torne real na Avenida Fernando Costa, na Vila Jaiara, onde está situada a sua loja de roupas.

“Após uma chuva forte, ainda temos que secar todo o piso da minha loja que se alaga completamente”, explica Jéssica, que atesta a entrada de água tanto na sua, quanto na da maioria de seus vizinhos. O acúmulo de água das chuvas perpassa as ruas nas partes mais altas e os bueiros não conseguem capta-las. Na proximidade do estabelecimento de Jéssica o curso ganha força para e leva o que estiver solto no caminho. O lixo vai se acumular metros à frente, perto de um posto de gasolina na saída do bairro para a BR-153. De tempos em tempos, os comerciantes fazem o corte no caule de um pequeno arbusto que criou raízes no resíduo de areia depositado na sarjeta e que cresce na época de chuvas.

O mesmo problema enfrentam Patrícia Gleice, 27 anos, e Geferson da Silva, 25, proprietários de em estabelecimento comercial situado na Avenida Engenheiro Portela, esquina com Avenida Senador José Lourenço Dias, no Centro. As águas só não se acumulam, neste caso, porque a parte mais baixa já se encontra o canal do Córrego das Antas. Mas, com as chuvas, os comerciantes têm o piso das lojas alagados. “Como nossos produtos são mecânicos e elétricos a água acaba estragando o que estiver no chão, temos que ficar sempre atentos a cada ameaça de chuva”, explica Patrícia.

Nos dois pontos os comerciantes alegam o fato de ser muito rara a limpeza de bueiros, chegando a acontecer uma vez por ano. Na Jaiara e no Centro, a olhos nus se percebe que as bocas de lobo estão entupidas por lixo jogado nas ruas e por sedimentos de construção civil, com destaque para areia e terra. “A última limpeza do bueiro foi no início deste ano e não sabemos quando será a próxima”, explica Geferson.

Poder Público

“Este era um serviço que, no plano ideal, nenhuma prefeitura deveria fazer”, afirma o secretário de Obras, Serviços Urbanos e Habitação, Leonardo Viana. Uma série de leis nos âmbitos municipal e estadual regem a permeabilidade do solo onde há edificações, nas formas de acomodar os detritos de construção civil, na exigência de galerias para novos residenciais, além de outras determinações ambientais e urbanísticas. O desrespeito a essas determinações são os principais eixos dos problemas, segundo Leonardo Viana.

As leis vigentes da permeabilidade do solo urbano em Anápolis exigem, para a regularização do documento ‘Habite-se’, a destinação de cerca de 20% da superfície do terreno para a penetração das águas pluviais. É prática comum, aponta o secretário, que, após emitido o documento, a área seja totalmente coberta ou tenha esse espaço bem reduzido pelo morador ou proprietário. “Por uma visão de status, de uma ilusão de limpeza ou de aproveitamento de do lote, muitos moradores descumprem a lei e selam toda superfície do terreno”, explica Leonardo Viana, reforçando como essas ações colaboram para os danos à coletividade.

 

Na estrutura atualmente exigida para a regularização de residenciais em Anápolis é solicitada, entre outras coisas, a entrega da rede pluvial pelo empreendedor. Essa exigência esteve mais latente no primeiro Plano Diretor do Município, datado de 2006. “Durante os anos em que estive envolvido com o setor de urbanização da Prefeitura de Anápolis, não chega a uma década que os requisitos para comercialização de residenciais são totalmente cumpridos e devidamente fiscalizados”, alega Leonardo.

Atualmente o secretário de Obras aponta que há uma equipe específica para acompanhar o cumprimento da infraestrutura básica que os novos residenciais devem entregar, arcado pelas incorporadoras e construtoras, antes de sua comercialização. “No fim, se o empreendimento não cumpriu a entrega das estruturas básicas exigidas, ele passa a fazer parte da malha urbana e com isso os gastos com danos e a ausência de infraestrutura são arcadas com recurso público”, explica Leonardo.

 

Serviços

A limpeza das galerias pluviais funciona regularmente, segundo o secretário. Porém, em relação à desobstrução dos bueiros, Leonardo Viana levanta fatores que complicam a execução mais frequente do serviço. Um deles é o fato de que para realizar a desobstrução deve ser feito o fechamento da rua enquanto ocorrer a operação, o que gera impacto sobre o trânsito. Para driblar esse fator, as alternativas são realizar a operação à noite ou nos finais de semana. Devido os riscos de acidentes com os trabalhadores e picadas de animais, como escorpiões, fica inviável realizar a operação no período noturno. “Quando o fazemos nos finais de semana, recebemos reclamações dos moradores quanto ao barulho provocado pela máquina de jato de água”, explica Leonardo.

Já em relação aos pontos citados na matéria, diferentes circunstâncias foram apresentadas para que seja feita a intervenção do município. Um problema comum aos dois locais é a dimensão defasada dos encanamentos para a demanda de água pluvial que têm ramais de 60 cm de diâmetro, na Jaiara, e 15 cm de diâmetro no Centro, nos pontos das lojas citadas. Para Leonardo Viana, nos dois casos seriam necessários ramais de no mínimo 150 cm de diâmetro. A Jaiara, no ponto referido da Avenida Fernando Costa, agrega mais um problema que é a falta de ‘postos de visita, visíveis na superfície por uma tampa no formato circular em que, no momento da manutenção, é possível adentrar e realizar limpeza mais eficaz nos ramais com os jatos de pressão.

Ainda em relação à Jaiara, será feita licitação no próximo ano para readequar os ramais e a estrutura de rede de captação da água das chuvas. A obra deve desviar o fluxo evitando o desaguamento no Parque da Jaiara, que terá um lago e não poderá receber a água insalubre vinda do circuito pluvial com lixo. Já no caso do Centro, a alternativa é a implantação de ramais mais robustos, porém não há previsão para isso.

Relatório entregue à reportagem do JE apresenta os números de ordens de serviços realizadas este ano. Elas giram em torno de 211 operações de construções e manutenções de bocas de lobo. A reparação de bocas de lobo danificadas foram 167. Apesar de solicitado também o número de funcionários e máquinas, as informações não constavam do relatório recebido.

 

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