Home Geral Nossa contradição eleitoral de cada dia

ORISVALDO PIRES

É fato que Anápolis ainda é o fiel da balança na eleição de governadores em Goiás. Mais uma vez esta máxima será reafirmada no segundo turno das eleições de 2014. Também é fato que Anápolis é a ‘galinha dos ovos de ouro’ para a eleição de vários deputados: estaduais e federais. Muitos dos que foram eleitos no dia 5 de outubro teriam sucumbido não fosse o apoio recebido das urnas anapolinas. No entanto, é lamentável que nós, eleitores de Sant’Ana das Antas, nos pleitos das últimas duas décadas, tenhamos nos especializado em consagrar deputados de outras cidades, em detrimento dos nossos. Uma estratégia nada inteligente.
E não me venham com aquela história de sempre, de que não temos bons candidatos anapolinos. Esta é uma desculpa esfarrapada que inventamos para justificar o fato de ignorarmos a importância de nos fortalecer politicamente, seja em qualidade ou numericamente. É possível até aceitar a crítica de que a cidade lança número excessivo de candidatos. Este ano foram quase trinta postulantes à Assembleia Legislativa, um absurdo que se transforma em suicídio político. Mas nomes de qualidade foram sim apresentados, políticos reconhecidamente experientes, que se eleitos elevariam em muito a força política do município na esfera estadual.
O desinteresse é tão evidente que, neste ano, sequer ouvimos falar da campanha antes promovida por entidades classistas e outros segmentos sociais, em defesa do voto de eleitores de Anápolis em candidatos de Anápolis. Em todas as outras eleições esta campanha era ato comum. Em 2014 sumiu. Seria pelo fato de um dos candidatos a governador ser oriundo de Anápolis? Talvez. Há impeditivos da legislação eleitoral para manifestações públicas desta natureza, embora seja necessário coragem para exteriorizar esta postura importante de defesa da nossa cidade. Às vésperas da eleição, durante entrevista a uma emissora de rádio da cidade, um juiz local declarou que já havia escolhido seus candidatos proporcionais e que eles seriam de Anápolis.
O jornalista Marcos Vieira assina reportagem nesta edição do Jornal Estado em que analisa de forma inteligente e com riqueza de dados o comportamento dos anapolinos nas eleições proporcionais. Num ponto da matéria revela que dos vinte candidatos a deputado estadual mais votados, os dezenove primeiros são de Anápolis. Dados que nos compelem a concordar que o grande mal que impede a eleição de mais representantes anapolinos para a Assembleia é realmente o número excessivo de candidaturas. A estratégia dos partidos está equivocada.
Podemos até nos arriscar a sugerir algumas atitudes para tentar reverter este quadro crônico e continuado de perda de representatividade política. Uma delas passa pelo desprendimento dos partidos e seus membros que desejam ser candidatos. Esta é a hora das legendas colocarem em prática aquilo que fica muito bonito nos discursos dos palanques eleitorais, de que seu principal interesse é com a cidade, com seu fortalecimento político, seu desenvolvimento em todos os níveis. Seria o momento dos partidos se alinharem em defesa da cidade, promover talvez uma pré-seleção e lançar um número mais sóbrio de candidatos.
Nosso sistema eleitoral permite que o candidato de uma cidade busque votos em outros municípios. Isto é legítimo de acordo com as regras atuais. Os deputados que elegemos este ano, reconhecemos, somente alcançaram vitória porque conseguiram votação expressiva em outras cidades. O sentimento é de uma pontinha de inveja de municípios como Catalão, onde os eleitores de forma consciente concentraram os votos em políticos locais. Resultado: dois deputados estaduais eleitos. Catalão tem três vezes menos eleitores que Anápolis.
O ato de votar em candidatos de fora, não significa que o eleitor anapolino esteja votando errado. Não é isso. Muitos políticos de outras regiões podem ter a mesma qualidade do que apresentamos aqui. Significa, porém, que ainda nos falta a compreensão da importância de ampliarmos nossa representatividade política. A cidade fica mais forte na hora de cobrar repasses de recursos federais e estaduais, e de reivindicar espaço nos governos do Estado e Federal. Anápolis poderia ser muito mais forte do que é hoje. Precisamos aprender a mensurar nossa capacidade política e a não nos contentar com pouco. Em 2014 dobramos nossa representação na Câmara Federal. Foi muito bom. Poderíamos ter dobrado também para a Assembleia Legislativa. Mas, ao contrário, perdemos metade da bancada. Foi muito ruim.

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