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IRON JUNQUEIRA

É missão impossível, mas nunca perdida. Alguém tem que ganhar a parada, ou todos na família perderão.

Por mais se tente recuperar da dependência química o usuário, mais intensa e desafiadora se torna a empreitada… São percalços e obstáculos que surgem de todos os lados. A família se torna dependente do traficante que está interligado à ela por simples ligação celular e a entrega da droga chega à porta — e todo o bem que a família retém, vai se esvaindo pouco a pouco até que, quando se acorda, não tem recurso, sequer, para a aquisição do pão de cada dia, muito menos para recorrer a hospitais e clinicas.

E quando surge uma porta que se abre acenando com possíveis soluções (às vezes malogradas) não há com que cobrir a despesa, mas a chantagem do jovem então se impõe:

— Não! Só irei à clínica em Ribeirão Preto ou São José do Rio Claro, ou na capital paulista se estiver drogado. E tanto insiste e bate o pé que a família não tem outra saída: vende a peça mais cara que tem e financia, outra vez, o capricho do filho.

Assim ele aceita, de bom grado, e acata qualquer oferta de tratamento, ciente de que, após mais esse sucesso obtido, voltará numa oportunidade próxima, a executar outro plano no sentido de continuar “nas ondas leviatãs da ilusão”…

Nas clínicas, principalmente nas mais simples, não faltarão os discretos fornecedores do pó branco ou da pedra mortal, que têm os produtos a pronta entrega (de uma forma ou de outra) dentro do próprio local onde, presumivelmente, está em tratamento. Porém, se o paciente está sempre bem e conformado, é porque a “poção mágica” não está lhe faltando, mas se o paciente não estivesse assim, estaria em abstinência, irritado, ansioso, irrequieto.

Há fornecedoras de toda natureza rondando o consumidor que não consegue se libertar das teias satânicas do vício que o segue obstinadamente por onde vá ou se esconda.

Por mais o usuário insiste em fugir dos fornecedores estes o encontram; e quando, enfim, ele está se esforçando para fugir do traficante, ou em função do sucesso da libertação por sua denodada vontade, o fornecedor sente estar próximo de perder um de seus beneficiários, ousa mais e tenta neutralizar o sumiço ou a libertação do seu cliente, mesmo assim, todavia, tenta se assegurar a ele, facilitando-lhe o fornecimento, mas,em contrapartida, apertando na cobrança através de ameaças que, muitas vezes, terminam em tragédia, o que é inevitável. Porque deixar o usuário oculto não há como, e permiti-lo livre seria pior: cedo ou tarde aquela novela terá um termo. Ou se liberta a vitima do pó e deixa-a tentar se libertar ou terá que silenciar sua voz que é o risco de prejuízo de muitos malfeitores que estão por detrás da indústria do pó e do desventura do consumidor.

Qual a saída? As tais fazendinhas, bem resguardadas, a internação compulsória, e a conversão convincente até à conscientização clara e real do abstinente que, de sua parte, não encontra outro meio de cura que não seja ele próprio, ligado a Deus e a uma vontade pétrea de reassumir sua vida com vontade e denodo invencível.

Terá que abster-se da droga por vontade própria, por vontade de viver, vencer e prosperar na vida, permanecendo numa luta indefinida de rejeitar o que o chama a todo instante: a vontade incontrolável de usar o que nunca deveria ter experimentado.

Se realmente o dependente quiser, livre e com vigor de repelir a vontade interior de usar a química, poderá alcançar tão abençoado êxito.

Mas enquanto ele estiver dependendo, apenas, da vontade dos pais, não adianta. Estes não são as presas, estes são os entes queridos dele, que farão valer os seus apelos levados pela esperança pelo amor pela fé, no entanto, se o filho (se for este) não estiver ele próprio, investido do real propósito de libertar-se do mal, não haverá solução. Nem as clínicas especializadas conseguirão essa glória de libertá-lo, porque ela não está dentro dele, do paciente, a vitória está na dependência de sua boa vontade ou do seu anseio de total independência.

A não ser por ele mesmo, pela sua transformação interior, ou sua decisão irrefreável, não terá como o sofredor divisar o nascer do sol de um novo dia.

É só, porque tudo o mais já foi dito.

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