Home Editoriais Política MDB anapolino tem eleição estadual para tentar frear encolhimento

Partido que já foi hegemônico na cidade hoje amarga maus resultados

MARCOS VIEIRA

Terceiro maior partido de Anápolis em número de filiados, o MDB local tenta na eleição deste ano retomar o prestígio que um dia já teve em Goiás, quando do seu diretório saíram deputados federais e estaduais, além de um governador, Henrique Santillo.

Até outro dia o Movimento Democrático Brasileiro ainda tinha o “p” de partido no nome, mas as lideranças nacionais entenderam que o desgaste da velha e gigantesca agremiação precisava ser contido. Nenhuma faxina ética foi feita – simplesmente trocaram o nome.

Em Anápolis, o encolhimento do MDB é visível e proporcionar à perda de espaço nas decisões relacionadas às disputas regionais. A última vez que a sigla participou de uma chapa majoritária foi em 2006, quando a ex-deputada Onaide Santillo foi vice do candidato a governador Maguito Vilela.

Em 2010, Iris Rezende só conseguiu um desempenho razoável nas urnas anapolinas devido ao apoio do prefeito na época, Antônio Gomide (PT). Em 2014, ciente do desempenho pífio que teria entre os eleitores locais, aferido por pesquisas, o tradicional líder desistiu de montar diretório na cidade.

A incapacidade de convencer o eleitorado de Anápolis pode ser explicada por alguns fatos. O primeiro deles é que os dois únicos nomes que disputaram o cargo de governador pelo MDB nos últimos cinco pleitos – ou seja, de 1998 a 2014 – acumulam desgastes que só cresceram na cidade.

Maguito Vilela tentou ser eleito em 2002 e 2006, mas a pecha de que quando foi governador (1995-1998) não voltou os olhos para Anápolis, permitindo o fechamento da Vicunha na Vila Jaiara, por exemplo, foi um dos principais motes de seus adversários para derrubá-lo no conceito do eleitorado local.

Com reduto eleitoral em Goiânia, Iris Rezende perdeu para Marconi Perillo (PSDB) em três disputas: 1998, 2010 e 2014. O desempenho ruim pode ser explicado: Iris foi desafeto do mais importante líder que a cidade já teve, Henrique Santillo, enquanto Marconi é tido como herdeiro político do médico de Anápolis que chegou ao Ministério da Saúde.

Casal
Iris também foi mola propulsora da saída do casal Adhemar e Onaide Santillo do MDB, em 2010. O ex-prefeito reclamou que os nomes locais do partido estavam desprestigiados na campanha estadual, em detrimento do aliado PT, e decidiu apoiar Marconi Perillo. Hoje Adhemar está filiado ao PSDB e sua mulher, Onaide, ocupa cargo no secretariado tucano.

A saída da família Santillo no MDB também representou a debandada de um grupo histórico, que desempenhava papel importante nas campanhas eleitorais. A agremiação acabou sob o comando do empresário Air Ganzarolli entre 2010 e 2011 – primeiro uma comissão provisória, depois diretório. Depois foi presidido pelo ex-vereador Achiles Mendes até ser assumido por Eli Rosa.

Único vereador do partido entre 2012 e 2014, Eli abriu mão da reeleição quase certa e topou ser candidato a vice na chapa encabeçada pelo então prefeito João Gomes (PT, hoje no PSDB). O episódio ficou conhecido pelo fato de Eli ter fechado uma aliança com o DEM do candidato Pedro Canedo e, nas vésperas da definição das candidaturas, ter sido demovido da ideia pelo comando regional do MDB.

A derrota de João Gomes fez com que Eli Rosa atribuísse o insucesso ao desgaste do PT. Já nos primeiros dias de 2017, a filha do político, Elinner Rosa (MDB), eleita vereadora, a única do partido, passou a fazer parte da base de sustentação do prefeito Roberto Naves (PTB), adversário na campanha.

A história de Eli Rosa com o DEM ficou congelada até este ano, quando o ex-vereador, que será candidato a deputado estadual, disse que mesmo presidente do MDB apoiaria o senador Ronaldo Caiado na disputa de governador. A cúpula estadual não gostou, lógico, e tirou Eli do comando do diretório municipal.

Assumiu o MDB anapolino o odontólogo Márcio Corrêa. Ele foi indicado pelo deputado federal Daniel Vilela e se mantém próximo ao virtual candidato ao governo, inclusive organizando reuniões para ele na cidade neste período de pré-campanha.

Novidade
Outsider na política, Corrêa tem tentado recompor o diretório com nomes novos na vida pública e outros, que embora já tenham feito parte de partidos, dão ar de renovação ao velho partido, como o médico infectologista Marcelo Daher. Somam-se a esses alguns políticos tradicionais, como o ex-vereador Ricardo Naben, exímio articulador de bastidores.

Daniel Vilela é o grande desafio do MDB anapolino. Embora jovem, é ligado a um político tradicional. Ao contrário dos últimos pleitos, é o primeiro nome do partido que começa a disputa sem estar polarizado na ponta com o candidato do governo. O deputado precisa de palanque na cidade, mas para isso tem que fortalecer os seus correligionários.

O pluripartidarismo dos dias atuais – o Brasil tem 35 siglas – impede que o MDB volte a ter a hegemonia da década de 1980, mas o seu tamanho na cidade precisa ser compatível com sua história. A chance desta retomada passa pelo trabalho que será realizado no pleito deste ano, com reflexo na próxima eleição municipal.

Saiba mais

De super bancada a uma cadeira

No livro Introdução à História Política de Anápolis, o escritor Juscelino Polonial levanta dados que mostra a hegemonia do MDB durante ao menos duas décadas e o declínio na cidade de Anápolis. Essa trajetória pode ser ilustrada pelos eleitos para a Câmara Municipal.

1982     13 eleitos      Total de 17 vereadores
1988     10 eleitos      Total de 17 vereadores
1992       6 eleitos      Total de 21 vereadores
1996       4 eleitos      Total de 21 vereadores
2000      3 eleitos      Total de 21 vereadores
2004      3 eleitos      Total de 15 vereadores
2008      2 eleitos      Total de 15 vereadores
2012       1 eleito        Total de 23 vereadores
2016       1 eleita        Total de 23 vereadores

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