Home Últimas Notícias Você sabe de onde vem a comida do seu prato?

Estamos inseridos em um Sistema Alimentar que não escolhemos o que queremos comer, comemos o que nos é condicionado e oferecido.

Publicado: 05.06.2023

Foto: Divulgação

Pode até parecer simples: ir ao supermercado, escolher o alimento, comprar, cozinhar e comer. A realidade é que esses passos não são “tudo”, mas sim “parte” de um Sistema Alimentar que engloba não só a comida que você escolheu, mas o que levou à sua escolha e tantas outras mãos em que esse alimento passou até chegar na prateleira do supermercado. Segundo o relatório de Nutrição e Sistemas Alimentares do Painel de Especialistas de Alto Nível em Segurança Alimentar e Nutricional do Comitê Mundial de Segurança Alimentar, Sistemas Alimentares são um conjunto de ciclos interdependentes de produção, distribuição, comercialização, acesso, consumo, utilização e descarte dos alimentos. E o que dita o caminho do alimento e como esses ciclos vão se desenvolver são aspectos políticos, socioeconômicos e culturais. Estamos inseridos em um Sistema Alimentar que não escolhemos o que queremos comer, comemos o que nos é condicionado e oferecido.

De acordo com o IBGE, os alimentos que mais foram produzidos no Brasil em 2021, em toneladas, foram: cana-de-açúcar (715,7 milhões), soja (134,9 milhões), milho (88,5 milhões), mandioca (18,1 milhões), laranja (16,2 milhões), arroz (11,7 milhões), trigo (7,9 milhões), banana (6,8 milhões), café (3 milhões) e feijão (2,9 milhões). Isso demonstra que nossa alimentação é monótona, mesmo estando no Brasil, um dos países com maior biodiversidade do mundo. Eu não me lembro da última vez que a cana-de-açúcar e a soja foram a base da minha alimentação, você se lembra da sua? Feijão por outro lado…

Em 2022, o Brasil registrou mais de 125 milhões de pessoas vivendo em insegurança alimentar, desse total 33 milhões passaram fome. Isso acontece porque as colheitas que o país prioriza só são úteis para exportação de commodities, produção de ultraprocessados, agrocombustíveis e ração animal. Esse é o modelo do Sistema Alimentar em que vivemos, precursor do cenário da sindemia global, que se refere à existência mútua entre as pandemias de desnutrição, obesidade e mudanças climáticas, que não coincidentemente compartilham as mesmas causas a partir de fatores sociais e ambientais.

Então, o que nos resta diante desse boicote à nossa saúde? De fato, as dificuldades encontradas para a manutenção de uma alimentação adequada e saudável aumentam a cada dia, principalmente no que se refere ao preço dos alimentos in natura e minimamente processados serem infinitamente maiores do que os de ultraprocessados. No entanto, precisamos começar a reagir e compreender que comer é um ato político e de resistência. Para isso, uma alternativa é investir nos circuitos curtos de comercialização do alimento, que são sistemas onde o consumidor compra diretamente do produtor, o que reforça a segurança alimentar com soberania. Isso possibilita o acesso a alimentos de maior qualidade e sem agrotóxicos, além de diminuir a geração de resíduos e uso de combustíveis, comparados ao modelo convencional. Fortalecendo então a agricultura local da região.

Se você chegou até aqui, acredito que foi possível entender que nossas escolhas alimentares possuem um peso enorme na sociedade. Que essa conversa possa ter te gerado mais autonomia.

 

Autora: Mestranda Mayra Alarcon Jeronimo da Silva

1 resposta a este post
  1. Pra além de um debate necessário, um debate essencial nas pautas do nosso cotidiano e do nosso estilo de vida! A consciência e a informação nos ajudam a sair um pouco do certo do sistema alimentar a que nos condicionaram, excelente artigo! Agroecologia é o caminho! 🙂

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