Home Editoriais Polícia Tráfico de drogas continua matando em Anápolis

LUIZ EDUARDO ROSA 

O tráfico de drogas segue matando em Anápolis, praticamente no mesmo ritmo de 2014. Houve uma redução no número de homicídios nos três primeiros meses do ano, e abril aponta para uma estabilidade em relação ao mesmo período do ano passado, mas o percentual de execuções continua inalterado.

Entre 1º de janeiro e a penúltima semana de abril, até dia 24, data do fechamento dessa edição, foram 46 assassinatos registrados em Anápolis. O delegado adjunto do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), Vander Coelho, acredita que entre 70% e 80% desse total as vítimas eram pequenos traficantes ou usuários de drogas.

Chama a atenção também a idade das vítimas, geralmente abaixo dos 25 anos. Cerca de 90% são do sexo masculino e uma parte considerável das 46 mortes de 2015 foi de pessoas que tinham saído recentemente do presídio. Alguns morrem por rixas arrumadas dentro do cárcere, ou antes da prisão. Assim que ganha a liberdade, o algoz vai atrás da vingança.

As vítimas geralmente sabem que estão ameaçadas, mas não procuram ajuda das autoridades, pois devem algo à Justiça. Até mesmo porque vivem à margem da lei, ignoram os dispositivos do Estado para tentar se proteger. Em outros casos, a dependência química, principalmente do crack, elimina qualquer senso no ser humano, incapaz de ir atrás de algum tipo de auxílio.

Chamam a atenção também os três duplos homicídios registrados somente nesse ano. O último foi na sexta-feira (24), na zona rural, em área após a Base Aérea de Anápolis (Baan), na estrada vicinal que leva até a obra do novo presídio. Dois corpos foram encontrados e ainda não identificados. Por enquanto vão se somar a outros três cadáveres sem identificação, até hoje aguardando no IML a reclamação de parentes.

Na madrugada do dia 19, um domingo, a Polícia Militar atendeu ocorrência na Vila Mariana também de duplo homicídio. Foram mortos os auxiliares de pedreiro Adílson Pereira de Oliveira, 21 anos, e Bruno Rafael Moraes de Alcântara, 22 anos, com vários disparos de arma de fogo. Junto aos corpos estavam dois outros rapazes e um menor de idade, todos feridos, mas sem risco de morte.

Há duas hipóteses para as mortes: dívida de drogas ou uma rixa nascida a partir de ciúmes de uma namorada. “Entendemos que essa segunda versão é para despistar, já que o local foi identificado como uma boca de fumo”, diz o delegado Vander Coelho. Há pistas dos autores dos dois homicídios.

Desde 2013 a Secretaria de Segurança Pública estabeleceu como meta a redução de 10% no número de homicídios a cada período. O objetivo tem sido alcançado em Anápolis, ao menos no que se refere ao primeiro trimestre de cada ano: em 2013 foram 48 mortes; em 2014, registro de 40 assassinatos; e agora, total de 33 – a queda se aproximou dos 20%. Abril não deve apresentar queda, pois até agora são 13 casos, ante 14 de 2014.

Dificuldades
Os códigos de conduta no mundo da criminalidade dificultam a ação das polícias. O subcomandante do 3º CRPM, tenente-coronel Paulo Inácio, conta que é normal o silêncio até mesmo entre parentes de vítimas, porque quem denuncia paga com a própria vida. Outro problema é uma reclamação antiga das forças de segurança: brechas demais na lei, que acabam beneficiando aqueles que respondem por crimes.

“Buscamos a agilidade na conclusão dos inquéritos tendo em vista que, quanto mais mantermos estes acusados presos, também se diminui as chances de eles continuarem cometendo homicídios”, aponta o delegado Vander Coelho. Infraestrutura e material humano para a Polícia Civil também são pontos delicados e essenciais.

Para se ter uma ideia, em dezembro de 2013 o GIH teve o incremento de mais um delegado e seis agentes. Isso ajudou na ampliação da elucidação de casos, chegando a 80%, afirma Vander Coelho. Mas ainda falta gente, inclusive para se criar um plantão, com delegado e agentes. Homicídios que acontecem aos finais de semana, feriados e durante a madrugada são atendidos por um plantão geral que socorre todos os tipos de ocorrências.

“O agente e delegado plantonistas não são os mesmos que continuam as investigações daquele caso, de forma que haja uma maior desenvoltura e familiaridade acerca de depoimentos e vestígios no local do crime. O contato que temos com assassinatos atendidos pelo plantão é através de relatórios”, afirma Vander Coelho.

Já para o subcomandante Paulo Inácio é preciso resgatar o papel da família na sociedade e valorizar entidades que acolhem usuários de drogas. O tenente-coronel também defende um maior acompanhamento de familiares, que podem repassar à PM de onde vem a droga comprada por um parente. “Aí chegaremos ao início da solução”, afirma Paulo Inácio.

 

Homicidio Osny Feliciano Barbosa

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