Home Editoriais Cidades SSP propõe maior atuação para inibir o roubo de cargas

Um dos trechos rodoviários de maior incidência de roubos em Goiás é o de Anápolis com sua posição logística privilegiada e atividade industrial pulsante, que gera grande movimentação

 LUIZ EDUARDO ROSA

O Programa Pró-Carga foi desenvolvido pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) para combater quadrilhas que agem nas estradas, assaltando caminhões. Um dos trechos de maior incidência destes casos no Estado é Anápolis com sua posição logística privilegiada e atividade industrial pulsante. Uma reunião realizada pelo Rotary Clube Anápolis Oeste, na última terça-feira (9), recebeu representante da SSP para tratar desse tipo de crime, que causa prejuízos enormes para a região.

Outro objetivo do encontro foi mostrar ao empresariado anapolino como é possível contribuir para coibir o roubo a cargas. O Programa Pró-Carga prega que um dos principais incentivos para que os bandidos continuem agindo é que encontram com facilidade quem compra os produtos no mercado ilegal.

Esteve em Anápolis o superintendente de Inteligência da SSP, Marcelo Aires, que explicou a forma de atuação do Pró-Carga. O programa foi lançado em setembro do ano passado e combina o fornecimento e recebimento de dados, ações conjuntas entre entes de segurança pública e uma legislação punitiva para aqueles flagrados receptando carga roubada.

“O objetivo da reunião foi apresentar um programa que já acontece e integra Anápolis para articular com o setor privado e contar com a colaboração do mesmo”, explicou Marcelo Aires. A reunião teve apoio e presença do Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor, Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Anápolis (Sittra), Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Rodoviária Federal.

Coordenador do encontro, o presidente eleito do Rotary Clube Anápolis Oeste, Vander Lúcio Barbosa, vem mantendo contato com autoridades da SSP numa tentativa de coibir esse tipo de ação criminosa na região. O evento com a presença do superintendente Marcelo Aires foi o resultado dessa empreitada. “A pujança econômica do município vem atraindo a criminalidade para o que hoje é considerado o trevo do Brasil”, salientou Vander Lúcio. Ao final do encontro, foi redigido um documento ao titular da SSP, secretário Joaquim Mesquita, solicitando a implantação em Anápolis de uma delegacia especializada em crimes contra o patrimônio.

Colaboração

Marcelo Aires falou sobre como o empresariado local pode ajudar no combate ao roubo de cargas. “Uma forma de atuação dos senhores é denunciar aqueles que vocês têm a suspeita de estarem se beneficiando de produtos frutos de roubos a cargas, para que haja a fiscalização”, expôs o superintendente.

Um dos trunfos da SSP para tentar conter a receptação de carga roubada é o decreto nº 8.251, de setembro de 2014, assinado pelo governador Marconi Perillo. O documento diz que a empresa que for constatada vendendo ou estocando produtos oriundos de roubo terá sua inscrição estadual e CNPJ cancelados, além das punições já vigentes no Código Penal pelo crime de receptação.

Anápolis conta com rodovias federais e estaduais, fiscalizadas pela PRF e PM. Marcelo Aires aponta que as mais utilizadas pelas quadrilhas de roubos a cargas são as BRs, pela infraestrutura, que permite um deslocamento rápido.

“Estamos brincando com as quadrilhas de gato e rato pela extensão de nossas rodovias. Hoje os criminosos migram de um ponto ao outro de acordo com a intensificação do trabalho da polícia”, disse o inspetor da PRF Neilton da Silva Costa. Falta estrutura para fiscalização. Anápolis tem um único posto da PRF que pode ser contornado facilmente por outras vias.

Sabotagem de caminhões, ações com equipamento tipo “capeta” que bloqueia sinais de rastreamento via satélite, furtos dos veículos em postos de combustíveis são algumas das formas criativas e reinventadas de atuação das quadrilhas, para cada vez mais deixar os motoristas despreparados perante a abordagem criminosa.

“As quadrilhas de roubo a cargas já enxergam a utilização da centralidade logística da cidade como também uma plataforma para as ações criminosas, não podemos permitir tal evolução desse quadro criminoso”, opinou o superintendente do Porto Seco Centro-Oeste, Edson Tavares. Ele também pontua os gastos que as operações de transporte de cargas têm atualmente com aparatos de segurança e escolta.

Os índices mais nítidos de como a situação de risco dos trechos percorridos em Anápolis para o transporte de cargas são os preços de seguros de certas cargas de maior valor, que nesta região tem aumentado vertiginosamente, segundo Edson Tavares.

Delegacia

Empresários e imprensa presentes no encontro aguardaram o possível anúncio da criação de uma delegacia especializada em roubo de cargas sediada em Anápolis. O superintendente Marcelo Aires argumentou que na atual circunstância de baixo efetivo de policiais, a criação de uma nova estrutura provocaria o remanejamento de pessoal da parte burocrática e outros gastos, do que propriamente policiais em atuação nas ruas e estradas.

“O que cabe em Anápolis é uma ação integrada das polícias que atuam no município e o suporte dos dados da inteligência para intensificar as ações”, afirmou o superintendente da SSP. Em sua exposição, ele mostrou ações conjuntas de esforço concentrado das forças policiais como Grupo de Radiopatrulha Aérea (Graer) da PM e a Delegacia Estadual de Repressão a Furtos e Roubos de Cargas (Decar) da Polícia Civil em forma de blitz e ação direta nas cidades goianas com maiores índices de crimes de roubo de cargas.

Sem data e previsão, o superintendente afirmou que em breve os anapolinos testemunharão a ação conjunta na cidade. “Queremos suprir a queda do efetivo com as ações embasadas no trabalho de inteligência em que otimizamos essa ação, sem contar com a atuação pontual de grupos de repressão ao crime das polícias Militar e Civil”, disse Marcelo Aires. Outro destaque foi o anúncio do fornecimento de dados para as polícias em atuação no município e canais diretos via Whatsapp com representantes da iniciativa privada para estreitar comunicações em tempo real no momento em que os roubos acontecem.

Um dos problemas levantados por todos é o judicial. Por ser um crime menos violento, não hediondo, as penas para roubo de cargas vem sendo abrandadas. As prisões preventivas duram no máximo 50 dias. Diante disso, Marcelo Aires e as entidades presentes perceberam que um passo mais adiante é a sensibilização dos representantes do Poder Judiciário, Tribunal de Justiça de Goiás e Ministério Público, e também aos parlamentares estaduais e federais, para criarem leis tornando o crime de roubo de cargas ainda mais grave e com punições mais severas.

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