Home Últimas Notícias Interlândia, Anápolis: a impensável rotina de viver sem sinal de telefone celular

Interlândia é um distrito de Anápolis que possui aproximadamente dois mil habitantes que vivem sem sinal de celular

ANA CLARA ITAGIBA
(Foto: Ismael Vieira)

O primeiro telefone móvel da história foi criado em 1973. Quarenta e quatro anos depois, a sociedade já não consegue mais viver sem o aparelho. Com tantas funções, o celular se tornou um item não só para o lazer, mas também para manter a vida social e, principalmente, profissional. Porém, mesmo depois de tantos anos, algumas localidades ainda vivem sem o sinal de celular.

Parece impensável, mas a 18 quilômetros de Anápolis há uma situação assim. Interlândia é um distrito anapolino que possui aproximadamente 2 mil habitantes que vivem sem sinal de celular. A equipe de reportagem do JE foi ao local, para saber dos próprios moradores como é viver assim.

Ronaldo Alves Pereira é proprietário de uma farmácia que fica logo na entrada do distrito. Ele gasta em torno de R$ 400 por mês com a conta do telefone, por sempre precisar ligar do seu aparelho fixo para telefones celulares. “O tempo todo eu tenho que conversar com representantes e vendedores em outras cidades, mas tenho que fazer isso da forma mais cara – de fixo para celular – porque aqui não tenho sinal para usar o meu aparelho móvel. É quase impossível viver sem comunicação”, contou.

Quando um carro estraga no trecho da BR-153 que passa pela região, o problema se torna mais sério do que normalmente deveria ser. Os moradores precisam ajudar o motorista e às vezes até prestar socorro. “Já aconteceu de uma senhora rodar um carro aqui perto da rodovia. Graças a Deus não machucou sério, mas ela precisava de socorro. A gente precisou ligar para a família dela em Jaraguá de um telefone fixo e entramos em contato com o guincho”, lembrou Ronaldo.

Paulo Henrique dos ReisO morador Paulo Henrique dos Reis (foto) também acredita que a falta de sinal afeta pessoas que passam pelo distrito. “Vamos supor que o carro estraga à noite a uns 5 quilômetro para baixo. Aí tem que vir a pé, porque ninguém vai parar à noite para ajudar. A falta do sinal influência muito nisso”, pontuou.

O jovem morou por cinco anos em Brasília e depois que retornou, sentiu uma diferença enorme. “É péssimo e constrangedor viver sem sinal aqui. Eu acho que é um desrespeito com a população, porque tem em Anápolis, que é aqui do lado, e nós não temos”, reclamou.

Na opinião de Paulo Henrique, um receptor da Oi já resolveria o problema, já que a operadora instalou uma antena lá. “Nós temos internet, mas oscila muito. O sinal às vezes pega, mas nem sempre é bom. O que salva é o sinal do Wi-Fi mesmo”.

O operador de motosserra Paulo Rodrigues Cardoso mora em um sítio a dois quilômetros de Interlândia. Ele é um trabalhador autônomo e para ajudar a conseguir mais serviços, estabeleceu um ponto de referência na entrada do distrito. “A gente perde negócio por causa dessa falta de celular. Eu trabalho com fazendeiros e às vezes querem que eu faça um serviço com madeira ou uma reforma de curral, mas não conseguem me achar”, explicou.

Motivo incerto
O motivo pelo qual o sinal de celular ainda não chegou à região é desconhecido. Em período de campanhas eleitorais, vários políticos fazem promessas no distrito dizendo que vão fazer um projeto, mas nunca foi concretizado. Diversos detentores de mandato já foram em Brasília, para tentar sanar a demanda no Ministério das Comunicações, mas nada aconteceu.

“Tem um detalhe técnico que impede. Inclusive eu já bati boca com políticos, que já prometeram trazer uma torre de sinal para cá. Uma vez me disseram que não colocam esse sinal em Interlândia porque uma torre nesse ponto daria interferência no radar da Base Aérea. Várias operadoras já tentaram vir para cá, mas o pessoal da FAB interfere”, disse o operador de motosserra Paulo Rodrigues Cardoso.

Paulo Henrique falou que há um processo na prefeitura dizendo que nenhuma operadora pode instalar qualquer antena dentro de Anápolis novamente, antes de instalarem em Interlândia. “Além daqui, Souzânia e outros distritos esperam por isso. Acho que determinaram assim para nos beneficiar de alguma forma”, opinou o morador.

“Tem várias desculpas, mas a gente não consegue compreender, porque a antena já tem. Temos duas antenas aqui, mas não funcionam nada”, concluiu Ronaldo Alves. Até que as respostas sejam dadas – e o problema de fato resolvido – os moradores seguem usando o celular para várias coisas, menos para telefonar.

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