Home Editoriais Cidades Especialista diz que horário de verão pode prejudicar a saúde

“Todas as pessoas possuem um horário no relógio para levantar, mas quando isso é alterado artificialmente, o organismo não respeita a mudança e isso pode causar prejuízos”, diz médico

ANA CLARA ITAGIBA

O horário de verão 2017 começa a partir da zero hora do próximo domingo (15). O principal objetivo é gerar economia de energia, mas a medida recentemente foi considerada ineficaz e por isso o governo federal cogitou descartá-la, mas sem sucesso. Além disso, o ajuste do relógio, que vale para as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, causa desconforto para a maioria da população e pode prejudicar a saúde das pessoas e o rendimento no trabalho e nos estudos.

A reportagem do JE conversou com o neurologista e especialista em Medicina do Sono Raimundo Nonato Delgado Rodrigues sobre os riscos dessa alternância de horários para a saúde da população. O principal marcador do ritmo biológico inverte quando nós queremos que seja escuro ou claro e segundo ele, atualmente vive-se em uma sociedade “cafeinada”, cuja moeda de troca é a produção e o mérito do trabalhador está relacionado com o quanto ele produz. “Portanto vivemos em uma sociedade muito competitiva. Uma sociedade que por conta da tecnologia, domina o claro e domina o escuro”.

Além disso, todas as pessoas possuem um horário no relógio para levantar, mas quando isso é alterado artificialmente, o organismo não respeita a mudança. Inicialmente isso não traz grandes malefícios, mas com o passar do tempo, sim. “Existe outro aspecto que não está totalmente relacionado com o ritmo biológico, mas sim com o número de horas que nós precisamos dormir”, afirmou o especialista ao explicar que isso se chama ritmo cicardiano e muitas vezes as pessoas esquecem que ele existe.

Mas, é importante ressaltar que cada indivíduo possui a sua característica individual de sono. Alguns tendem a dormir mais, enquanto outros menos, e isso deve ser respeitado. Quando se reduz o tempo disponível para dormir, as pessoas começam a desencadear um quadro de privação do sono. “O horário de verão é uma privação do sono que é imposta. O nosso corpo passa a entender que aquilo é uma ameaça à integridade, porque você precisa dormir tantas horas e não consegue. Então ele vai acionar um modo de resposta ao estresse e esse modo resulta em diversos problemas ao organismo”, explicou.

Quando o indivíduo apresenta esse quadro, acontece a liberação de alguns hormônios como cortisol e o neurotransmissor da adrenalina. Isso resulta no aumento da pressão arterial, diminuição do calibre dos vasos sanguíneos, aumento da glicose no sangue e aumento do colesterol. Com o passar do tempo, o indivíduo submetido a isso pode desencadear doenças como: obesidade, diabetes, hipertensão arterial e arritmia.

Em crianças
O especialista em Medicina do Sono explicou que as crianças que tendem a dormir mais, consequentemente sofrem mais. “Elas sentem da redução do horário de dormir. Mesmo porque, se uma criança deita, por exemplo, às 22 horas, quando o horário de verão mudar ela não vai conseguir deitar facilmente e dormir as 21 horas. Ela vai continuar dormindo às 22 horas que na verdade são 23 horas e acordando mais cedo do que estava acostumada”, explicou o médico Raimundo Nonato.

Quando isso acontece, a criança começa a entrar em quadro de privação do sono, vai acordar mais sonolenta e vai passar as primeiras horas da manhã assim. Isso pode desencadear irritação, falta de atenção e falta de concentração durante os estudos.

Orientações
Nonato informou que o melhor tratamento é dormir em horários convenientes. No caso específico do horário de verão, esse processo devia começar, pelo menos uma semana antes, fazendo com que o indivíduo passe acorde 15 minutos mais cedo a cada dia e consequentemente sentirá menos sono. “No momento em que o horário de verão começasse, o indivíduo estaria sincronizado. Vamos dizer que seria uma forma de alterar o horário sem alterar a quantidade de sono”, aconselhou.

Eficácia reduzida para a economia

No final de setembro, o final de horário de verão chegou a ser cogitado pelo governo, após estudos mostrarem perda na efetividade da medida, em razão das mudanças nos hábitos de consumo de energia. De acordo com o Operador Nacional do Sistema (ONS), a temperatura é quem determina o maior consumo de energia e não a incidência da luz durante o dia, fazendo com que, atualmente, os picos de consumo ocorram no horário entre 14h e 15h, e não mais entre 17h e 20h.

O ONS aponta que no horário de verão praticado em 2016/2017 a economia foi de R$ 159,5 milhões, valor abaixo período de 2015/2016, que foi de R$ 162 milhões.

O governo informou que, para 2018, deve fazer uma pesquisa para decidir se mantém ou não o horário diferenciado nos próximos anos.

A escassez de chuvas e o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas este ano pesaram na decisão do governo de manter o horário de verão este ano. Apesar de descartar o acionamento das usinas termelétricas, cujo custo está acima do preço da energia no mercado à vista, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) autorizou o aumento da importação de energia da Argentina e do Uruguai e uma campanha de estímulo à economia de energia.

Além disso, a expectativa é que, em outubro, o governo deve passar a cobrar a bandeira vermelha, possivelmente na faixa dois. Atualmente, está em vigor a tarifa amarela na cobrança da conta de luz. Essa tarifa representa um acréscimo de R$ 2 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Com a adoção da tarifa vermelha, o preço da tarifa de energia passa a ter um acréscimo vai a R$ 3 por 100 kWh. No caso do patamar dois, esse valor seria maior: R$ 3,50 a cada 100 kWh consumidos.

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