Home Geral Uma loucura de vida I

IRON JUNQUEIRA

Além dos livros publicados, devemos ter mais uns trinta, inéditos, no computador, guardados no Dropbox.

De todos esses humildes trabalhos, selecionem os mais construtivos, que beneficiem boa parte de leitores, e façam deles minilivros, tipos “Palavras de Conforto”, no formato do “Minutos de Sabedoria”, de Pastorino, ou do “Raio de Sol”, de mim para a Dely. São obras lindas. Fazendo isso, com o passar do tempo, selecionando preceitos, pensamentos, poderão, no futuro, sem prejuízo para o Lar, mas para lucro de todos, venderem-nos a preço popular e doar (se quiserem) aos detentos nos presídios ou aos adolescentes nos Centros de Internamentos e recuperação.

Foram escritos em noites longas, não dormidas, frias e silenciosas, clima musicalizado, e devem ter destinação múltipla, ou os bons Emissários não teriam perdido tempo precioso escrevendo através deste chucro, que começava a rabiscar com o chegar da lua e parava com o despertar das criancinhas pelas cinco da manhã, cumprimentando-me: — Oi, Tio?

— Uai, crianças! Vocês não vão dormir? — E elas:

— Já amanheceu o dia, estamos esperando a Tia fazer nosso lanche.

— Caramba! E as seis da matina começava o meu segundo turno de trabalho: a burocracia o recolhimento dos mantimentos nas padarias, nas feiras, açougues, mercados e frutarias.

Não permitam que deturpem nossos livros. Quem sabe Deus nos outorgou a tarefa de revisar muitos deles para reedições consecutivas, porque deverão ter alguma validade para o Lar, para os sofredores ou para os familiares.

Livros de críticas aos administradores, religiosos e radicais têm demais. Embora mordazes, irônicos, são altamente instrutivos, principalmente aos menos favorecidos em termos de discernimento. Será um meio de prepará-los. Critico escolas sem ensino de qualidade, colégios sucateados, ruas escuras colocando em risco vidas de passantes. Refiro-me às meninas sem orientação dos pais, que se entregam à prostituição, e que logo que se engravidam são expulsas de casa pelos responsáveis e ex-namorados. Quantas destas tivemos que ampará-las, gestantes, até depois de nascerem os filhos. Há crônicas alertando-as dos rapazes malandros, drogativos, ladrões, vadios que se passavam por solteiros para explorá-las, porém, pais de 3 a 4 filhos com outras mães, naquele impacto de mentir para elas que são desimpedidos somente para as extorquir. São malandros, donos de motos velhas, não quitadas com ex-donos, e que vivem às expensas das —digamos! — quatro ingênuas “esposas”, das quais exigiam roupas lavadas, comida, seus minguados salários que traziam do trabalho de diaristas.

Os livros de que lhes falo trazem histórias reais da cidade, do estado, do país, até de Brazabrantes e grandes aprendizados que obtivemos na maravilhosa fase de internamento do Lar H. de Campos, que ainda hoje aí está firme e forte como uma Nave de Deus, levando os necessitados ao porto de chegada, sem interrupção.

Fatos reais de como certas crianças foram encontradas nos bancos de jardins, nas latas de lixo, nos alpendres das residências e da própria instituição. Pais que as expulsaram de casa e as deixavam na porta do lar HC, rejeitadas após espancamentos, crianças tiradas de pais jovens, ou pobres e repassadas para advogados traficantes que, de modo ilegal, açodado, as traficavam para países estrangeiros, como França, Itália, EUA e tantos outros. Começaram a recolher essas crianças dos seus casebres, dos barracos onde estavam sozinhas enquanto as mães trabalhavam, observadas por vizinhas, também quase nas mesmas condições miserandas que as genitoras. Até crianças, filhas de empregadas domésticas, que esconderam a gestação da patroa e deram à luz no banheiro, trancadas por dentro, e que jogaram o filho no vaso sanitário. Até arrebentar porta de banheiro, às 3 horas da manhã, tive que fazer para salvamentos de crianças relegadas pelo desamor, pelo desafeto de mães carentes ou sem consciência alguma.

De tudo minhas humildes obras dão uma real noção de como foi esta aventura uma loucura de vida.

Amigos meus, que me conheceram naquela juventude laboriosa e difícil já me alertaram: — Se você não deixar escrita a sua biografia, do instante bucólico em que você nasceu, por tudo o que passou, batalhou, brigou com figuras proeminentes, estimulou outras entidades, então de nada terá valido uma existência estoica como foi a sua. Não terá valido o café da manhã. Porque essa vida não foi ficção nem romance de Victor Hugo. Foi uma vivência de trabalho, abnegação, lealdade ao extremo com suas crianças — e nunca! Compreendida por quase ninguém, pois poucos que a conheceram já partiram para a Cobertura Azul. Só você mesmo se lembrará dela com o auxílio de Deus, a Consciência Paterna, que não esquece um só segundo vivido pelos seus filhos.

Um pastor amigo — Prof. Antônio de Deus e o Procurador de Justiça do Estado, Doutor Daniel de Freitas, ainda quando me encontram cobram minha biografia, sendo que Antônio de Deus recomenda, quando me fala:

— Mas você tem que contar tudo!

Ora, pensam que temo o relato dos meus amores com mulheres impedidas, entreveros célebres de âmbito nacional ocasião em que acelerou a criação do ECA em substituição ao antigo Código de Menores, forjado açodadamente, a quatro mãos, pelos militares que tomaram o governo na intervenção de 1964. De forma que o Lar Humberto de Campos teve participação por vinte anos na criação do ECA, que até hoje, anualmente, passa por mudanças cada vez mais positivas, salvas algumas que não pegaram no país, principalmente depois que os militares, tendo procedido à custa de barbárie (algumas reformas muito positivas e outras nem tanto).

Depois do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, a administração foi parar na esquizofrenia de esquerdistas malucos, ladrões, corruptos, analfabetos, desinteressados da população, formando quadrilhas em todo estado brasileiro, colocando ditos cujos para tomar as terras de trabalhadores honestos, matando, roubando, saqueando gados, destruindo fazendas e todo tipo de criação. Eram liderados por dois delinquentes: João Pedro Stédile e José Rainha. Quando a nação acordou para a bandalheira que esses políticos aloprados estavam aprontando com o país, as poucas autoridades, probas, honradas e heroicas começaram a prender esses bandidos, nem todos, ainda, principalmente quando a mídia e a Polícia Federal com o Ministério Público da União descobriram que as instituições governamentais do país estavam, todas,minadas por quadrilhas, corruptos, assassinos e grandes oportunistasque tentavam escapar da Lei à custa de deslavadas e pífias mentiras.

Paro por aqui. Por ora.

Será que esta parte ora redigida servirá para um capítulo da nossa biografia que pensamos em escrever (se não tiver preguiça) sob o título UMA LOUCURA DE VIDA?

Tomara. Deus sabe. Recentemente quase que o Grande Pescador Jesus me fisgou do oceano da vida física sob o impacto violento e tardio de ataque de Apêndice Supurado. Na hora foi como se atravessasse uma lança no meu abdômen! Fui bem atendido por médicos (e pelos Espíritos Bons) e, com isso, escapei. Fui socorrido no Hospital Evangélico. E agraciado por Deus por uma prorrogação na minha já semelhante vida de Matusalém, e aqui estou — como sempre forte e bonito. Só não sei para que motivo. Terá esse adiamento de existência a ver com a autobiografia? Sei lá. Porque nossa história vale para auxiliar milhares e milhares de pessoas, principalmente se bem contada quando eu não estiver por estas paragens, numa biografia franca, sincera e honesta, porque não tenho nada a esconder de ninguém. De quem teria, aliás?

É isto.

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