Home Editoriais Cidades Produtores dizem que não há ‘limites claros’ para irrigação no Piancó

LUIZ EDUARDO ROSA

Os produtores rurais da região noroeste de Anápolis alegam recuo na produção devido à falta de parâmetros claros para os limites de irrigação. Uma das expectativas é a intensificação do projeto proposto em audiências do Ministério Público de Goiás (MPGO) para racionalizar o uso da água do Piancó. Por enquanto, o impacto é demissão de trabalhadores nas lavouras e prejuízo para os donos da terra.

Os produtores apontam que o plano de ação acertado entre irrigantes, Saneago e o governo estadual não teve prosseguimento, ou ao menos não teve efetividade para já apresentar mudanças no quadro de falta de água para este ano. “Até o momento o que vem sendo feito é o cadastramento dos irrigantes pela Saneago sem nenhuma ação mais enérgica de instrução dos produtores quanto ao uso da água”, afirma a presidente da Associação dos Produtores Rurais da Região do Piancó (APRP), Amélia Mendes.

A estimativa do MPGO é a existência de 186 produtores utilizando irrigantes na região. Para Amélia, esse número é mais que o triplo do que eles consideram ser a quantidade real. Somente no registro da APRP estão cadastrados 42 produtores que utilizam água do sistema Piancó. A estimativa do universo de irrigantes associados e os que não são é de no máximo 50. Amélia aponta que os que utilizam a água em escala maior não passam de 12 entre os 42 associados. “Estes que são considerados pelo governo grandes irrigantes não possuem nem sistema de pivô, são motores até no máximo de 50 cilindradas”, explica Amélia.

Os produtores alegam que com as outorgas de autorização do uso do sistema Piancó paralisadas pelo Estado, e a intensificação da fiscalização, acaba gerando dúvidas e receio de perder a plantação de algumas culturas, ou expandir o que já produz. “Tive que reduzir minha produção em 70% e dispensar mão de obra por causa das dificuldades com a fiscalização, já que não sabemos ao certo qual é a forma legal para manter o que temos de plantio”, explica o produtor Eduardo Mendes Rosendo, de 48 anos.

A maior parte dos produtores rurais aderiu ao plantio da banana e do cultivo de folhagens devido uma recomendação feita pelo MPGO em 1998. A cultura da banana tecnicamente necessita de menos frequência de irrigações, como também uma menor quantidade de água. Por isso foi um dos plantios recomendados. “Antes desse aumento da fiscalização tínhamos culturas de diferentes tipos de verduras e principalmente de folhagem”, explica Amélia. O que se planta na região do Piancó atende centros de abastecimento em Anápolis, Goiânia e Brasília.

Segundo os produtores, a plantação de banana precisa de água de dez em dez dias. “Já as hortaliças e folhagens requerem uma frequência maior de irrigações e com isso mais água, porém paralisamos esses cultivos no mês de agosto para aproveitar ao máximo a água das chuvas”, afirma o produtor Elcival Mendes, de 58 anos. Com a falta de parâmetro claro para a irrigação, ele afirma que acabou por ter um prejuízo de cerca de R$ 300 mil, devido o fato de não poder fazer a colheita de um de seus cultivos.

Poder público
Um dos pontos levantados pelos produtores é a falta de investimento na captação de água pela Saneago. “Observamos que o mesmo sistema de captação vem sendo empregado há 40 anos, quando percebemos que neste tempo só há o aumento da população e crescimento da cidade”, aponta Amélia. Neste sentido, os produtores entendem que somente o investimento para ampliar a reserva de água é que poderia possibilitar um maior uso pelos produtores e também para o abastecimento da cidade.

Uma das incompatibilidades que os produtores percebem na atuação do poder público, com órgãos e empresas estatais, é a ação que somente se faz presente no campo fiscalizador, porém não tem celeridade na vistoria para outorgas, como também não há assistência técnica oferecida aos produtores da região. “Quando realizam alguma intervenção aqui na região não dão continuidade como, por exemplo, o reflorestamento das margens”, explica Elcival. A reportagem fez contato com a Saneago e o governo estadual, mas não houve o retorno até o fechamento da edição.

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