Controle da obesidade amplia sobrevida no câncer de cólon

Uso de agonistas de GLP 1 reduz em mais de 50 por cento o risco de morte em cinco anos e reforça a importância do controle metabólico no tratamento oncológico
Uma análise recente baseada em quase 7 mil pacientes com câncer de cólon indica que o uso de agonistas do receptor de GLP 1, fármacos modernos empregados no controle do diabetes e da obesidade, está associado a menos da metade do risco de morte em cinco anos em comparação a pacientes que não utilizam essa classe de medicamentos.
Os dados, divulgados pelo Medscape Medical News e originados de pesquisa conduzida por Raphael E. Cuomo, da Universidade da Califórnia, reforçam a importância do controle metabólico no tratamento oncológico, sobretudo em pessoas com obesidade severa, com índice de massa corporal igual ou superior a 35.
Atenção ao metabolismo
Para o endocrinologista Jorge Cecílio Daher, que lida diariamente com pacientes com distúrbios metabólicos, os resultados não devem ser interpretados como um milagre repentino, mas como uma confirmação da fisiologia. Segundo ele, a obesidade, em especial a severa, cria um ambiente inflamatório crônico no organismo que favorece a agressividade dos tumores e pode comprometer a resposta às terapias tradicionais. Ao intervir nesse cenário com agonistas do receptor de GLP 1, o médico vê uma estratégia que vai além da balança.
Ao comentar o estudo, Daher ressalta que a ação desses medicamentos é ampla. “Ao utilizarmos essa classe de medicamentos, não estamos apenas ‘baixando o açúcar’ ou reduzindo o peso na balança. Estamos desinflamando o sistema e retirando o ‘combustível’ extra que a doença oncológica muitas vezes utiliza para progredir”, afirma. Para ele, a pesquisa evidencia que o manejo adequado da obesidade em pacientes com câncer de cólon pode se tornar um componente central da terapêutica e não apenas uma recomendação acessória.
Emagrecimento assistido
No consultório, a principal mudança é a forma de encarar o paciente oncológico com obesidade. O tratamento do câncer deixa de ser visto como algo restrito a cirurgia, quimioterapia e radioterapia e passa a incluir, de maneira estruturada, o controle metabólico rigoroso. Nesse contexto, o emagrecimento assistido, quando bem indicado e acompanhado, passa de um objetivo estético ou meramente preventivo para uma estratégia diretamente ligada à chance de sobreviver mais e melhor.
Daher, contudo, alerta para os riscos da automedicação e lembra que o uso de agonistas de GLP 1 exige avaliação individualizada, com base em evidências consolidadas, como as presentes em plataformas científicas como o UpToDate. “A mensagem que fica é de otimismo, mas também de responsabilidade. Temos hoje em mãos ferramentas que, ao tratar o metabolismo, podem ser aliadas poderosas na luta pela vida, desde que usadas com critério e acompanhamento especializado”, conclui o endocrinologista.
