Home Editoriais Cidades Moradores ainda ignoram serviço de coleta seletiva

Ganho mensal é de R$ 800 na mais antiga cooperativa da cidade; na mais nova, chega a R$ 500, que se soma aos R$ 600 repassados pela prefeitura como auxílio

LUIZ EDUARDO ROSA

Moradores dos 150 bairros de Anápolis que contam com coleta seletiva do lixo ainda não aderiram de forma plena ao sistema. O maior problema está principalmente na falta de separação do lixo reciclável, apesar das campanhas realizadas com mais intensidade a partir da presença da equipe coletora e abordagem das equipes nesses setores.

Sem a colaboração da população, grande parte do lixo que poderia ser reaproveitada e gerar mais renda às cooperativas acaba por ir para o aterro sanitário juntamente com os detritos orgânicos.

Anápolis tem duas cooperativas que trabalham com material reciclado: Coopercan e Coopersólidos. Cooperados das duas entidades apontam que há um recebimento contínuo do lixo reaproveitável, mas a quantidade nem chegar perto daquilo que é produzido nos 150 bairros com coleta regular.

“Ainda há muita dificuldade na postura dos moradores. Não é raro encontrarmos fezes de animais e fraldas infantis usadas mesmo no lixo separado para reciclagem”, revela a presidente da Coopersólidos, Edna Telma.

“Ainda não há um conhecimento seguro da população tanto no discernimento do que é lixo orgânico e o que é reciclável, como também de outros materiais que podem ser reaproveitados muito além do vidro e do papelão”, explica a presidente da Coopercan, Aurislayne Glaucielle.

Os materiais de reciclagem mais comuns e com valor comercial são garrafa Peti, lata de alumínio, lata de extrato de tomate ou óleo, papelão, caixa de leite, vidro, plástico, garrafa mangaba (vasilhame de produtos de limpeza), isopor e pedaços de ferro. A única exceção é a madeira, sem comercialização.

“Falta uma educação que vá desde abordagens culturais como teatro, sensibilizando o público, até a educação nas escolas, com a preparação dos professores para que orientem os alunos”, diz Aurislayne. O carro chefe das duas cooperativas é o papelão, que apesar da constante variação de preço, sempre apresenta bom mercado.

Essa variação do preço é motivada por inúmeros fatores, geralmente orientados pela indústria, principal compradora do papelão para transformação em matéria-prima na fabricação de tecidos, plásticos e outros materiais. Grande parte delas está fora do Estado de Goiás, concentradas principalmente em São Paulo. Geralmente empresas locais compram os materiais e revendem , funcionando como atravessadoras.

A unidade para comercialização é por quilo do material – há um preço para o material solto e outro ainda maior pelo prensado. O papelão, por exemplo, custa 22 centavos solto dentro de grandes sacos; já o preço dele prensado é de 28 centavos. “A variação de preço é constante, continuamente confiro os preços com a empresa que comercializamos aqui na cidade”, explica a tesoureira da Coopersólidos, Solange de Fátima. Ela aponta que um dos materiais que está em queda atualmente é a garrafa Peti.

Dinâmica

A coleta seletiva em Anápolis já existia, porém mudou a dinâmica após a proibição de catadores em aterros sanitários por uma lei nacional que vigora desde agosto do ano passado. A empresa GC Ambiental, concessionária do setor de limpeza pública em Anápolis, que cuida da coleta seletiva. Caminhões com alto falante percorrem os 150 bairros, em dia da semana pré-agendado, solicitando o lixo reaproveitável. Não há um trabalho específico nas casas, apenas o sistema de som.

A empresa encaminha o material coletado para as duas cooperativas. A GC Ambiental disponibiliza para o serviço 19 funcionários e seis caminhões.

A Coopersólidos é a mais antiga da cidade com sete anos de atuação e conta com 15 cooperados, que além de receberem o lixo coletado pela GC Ambiental fazem a abordagem nas casas por conta própria. “Se esperarmos somente essa coleta dos bairros vindo dos caminhões da empresa, chega pouca coisa, então de tempos em tempos vamos nós mesmos buscar nos bairros com abordagem nas casas de cada rua”, explica a presidente Edna Telma. Na entidade eles fazem a separação dos tipos de material e a prensagem. A renda de cada cooperado varia entre R$ 700 a R$ 800 por mês.

Renda

A Coopercan recebe os recicláveis da GC Ambiental e de empresas do Daia. Os cooperados fazem a preparação do material, eliminam o expurgo (materiais perdidos sem condição de utilização) e realizam a prensagem. A partir de uma lei aprovada ano passado na Câmara Municipal, por iniciativa do Executivo, cada cooperado da Coopercan recebe a ajuda de custo de R$ 500 mensais e consegue alcançar com a venda dos materiais cerca de mais R$ 600, chegando a R$ 1,1 mil.

A ajuda de custo do poder público tem a duração de um ano, portanto termina em fevereiro do ano que vem, porém pode haver prorrogação caso o prefeito queira.  “Os maiores fornecedores atuais de material reciclável são as empresas. Com a falta de educação da população muita coisa vai para o aterro e o que chega dos bairros é muito pouco”, reforça a presidente Aurislayne.

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