Home Editoriais Política Fernando Cunha: “anuncio a minha saída da vida pública”

 

Fernando Cunha 12,06,15 (11) 

Fernando Cunha afirmou que a decisão é de cunho pessoal, pois seu objetivo é priorizar a família. A notícia mexe no xadrez eleitoral local e terá repercussões nos próximos dias

ORISVALDO PIRES E LUCIVAN MACHADO

Na sexta-feira (11), o vereador Fernando Cunha anunciou que não seria mais o candidato do PSDB a prefeito de Anápolis. E mais: disse que estará deixando a vida pública ao final do seu mandato, em 31 de dezembro deste ano. A decisão é de cunho pessoal. Fernando Cunha disse que priorizará sua família. A notícia mexe no xadrez eleitoral anapolino e terá repercussões nos próximos dias. Fernando conversou com o Canal Anápolis e o JE momentos depois de anunciar sua decisão. Confira.

 

Orisvaldo – O senhor anunciou nesta sexta-feira (11) que deixa a direção do PSDB e desiste da pré-candidatura a prefeito de Anápolis. Por quê?

Tenho uma vida pública desde 2008, quando me candidatei a vereador na cidade de Anápolis pelo PSDB. Filiei-me ao partido anos antes, e desde 2008, na minha primeira eleição, fui o mais votado do partido, o mais votado da coligação, e tentei cumprir da melhor forma possível e desempenhar da melhor maneira a função de parlamentar. Tanto que em 2012 fui reeleito, novamente o mais votado do partido. Agora essa decisão. Um pouco antes do Carnaval a gente tinha outros pré-candidatos dentro do PSDB. Eles abriram mão naquele momento pela minha candidatura, e desde então venho refletindo bastante, conversando bastante com outros partidos. Até que chegou uma hora que, confesso, eu pulei uma etapa. Esqueci de combinar com minha família, de acertar o que queríamos. Sentei, pensei, sai de férias do governo estadual para que pudesse me aprofundar na minha pré-candidatura. Conversei com minha esposa, minhas filhas, minha mãe, meu pai e meus irmãos, meus tios e meus amigos mais próximos e senti que não era aquilo que eles queriam. Senti que a política neste momento é até um peso para eles. Eles me acompanham, mas não há a desenvoltura necessária. Todos são da iniciativa privada e eu fui o único da família Cunha e da família Cachoeira que resolvi entrar na vida pública. Quero ressaltar aqui que marcou muito uma frase da minha filha. Quando anunciei que não seria mais candidato, ela disse “graças a Deus” [bastante emocionado].

 

Orisvaldo – O Fernando Cunha se emociona porque a família tem um peso muito importante neste processo. Você acha que o caminho é esse, que as coisas estão todas arrumadas, mas aí você vai perceber e a família tem um porém que você precisa respeitar.

Lucivan – E a própria palavra fala: você se torna uma pessoa pública. E muitos não entendem o que é ser público, confundindo por alguns como se fossem donos da pessoa. O próprio Fernando já nos confidenciou isso, às vezes a família fica esquecida. Não é porque quer, mas devido ao trabalho, a agenda movimentada.

Orisvaldo – Às vezes algumas pessoas confundem o fato de uma pessoa ocupar um cargo público, e dever satisfação à sociedade, com a liberdade que a pessoa se dá de fazer críticas pessoais, de questionar valores que essa pessoa possa ter. Então muitas vezes essas coisas acabam invadindo. Mas todo mundo tem seu limite.

Mas enfim, decidi naquele momento que tiraria aquele peso das costas da minha família. Hoje, sexta-feira [12 de março], fui a Goiânia, conversei com o governador Marconi Perillo, anunciei a retirada da minha pré-candidatura a prefeito da cidade de Anápolis, a minha ausência do processo eleitoral de 2016 como todo. Voltarei ao final das minhas férias no governo de Goiás à Câmara Municipal, para terminar meu mandato.

 

Lucivan – Buscará a reeleição?

Não, muito pelo contrário. Estou anunciando aqui a minha saída da vida pública. Carrego aqui o nome da família Cunha, que teve como expoente político o meu avô, Fernando Cunha, que foi deputado federal de 1970 a 1990. Disse hoje ao governador na conversa franca, amistosa, bastante emotiva, até porque fui o único da família que resolvi seguir os passos do Fernando Cunha, o ex-deputado. O governador, bastante emocionado, disse que era uma pena, mas que não poderia fazer nada por se tratar de uma decisão particular, de família. Até disse a ele que o admirava pela forma que ele conseguia conciliar a vida pública e particular. Porque vocês podem ter certeza que não é fácil. Só quem está dentro da política que sabe quanto é difícil. Comuniquei hoje minha decisão à vereadora Mirian Garcia e ela disse que eu estava fazendo certinho, que eu era novo, com 34 anos. Saio deste mandato de oito anos – sendo que um ano passei na Superintendência do Produzir/Fomentar – com a sensação do dever cumprido. A política nunca sai das nossas veias. Vamos sempre estar debatendo política, conversando sobre o assunto, analisando. Mas como candidato, não mais. O momento da decisão foi esse, bastante pensado, algo de família que tive que decidir. Confesso que não consegui conciliar vida pública com a particular. Neste momento preferi minha família e meus amigos, que até isso a política consegue afastar. Eu brinquei hoje que agradecia aos membros da executiva do PSDB por me terem colocado como pré-candidato, pois pude refletir bastante. É uma decisão acertada, tem as mãos de Deus – Ele com certeza escolheu o melhor caminho para mim. No final do meu mandato quero sair como entrei, sem qualquer mácula, sem manchas. Deixo isso para minha família: um legado que vem desde 1970, com a primeira eleição do Fernando Cunha, até 2016, quando encerro meu segundo mandato.

 

Lucivan – O senhor ficou magoado com essa situação dos últimos dias, de uma possível filiação do deputado Carlos Antonio ao PSDB para ele ser candidato?

Orisvaldo – Principalmente depois do seu nome ter sido referendado como pré-candidato?

Lucivan – Porque é isso que estranhou muito. E aí vai uma crítica minha: achei muito frágil o PSDB anapolino, pois a partir do momento que o governador falou que o partido que decide em Anápolis, a executiva teria que ter se manifestado, dizendo que o nome é Fernando Cunha. Fica alguma coisa disso tudo?

Sinceramente não fica nada disso. Antes de entrar na política eu já convivia com a política. Eu já ia a Brasília, já acompanhava Fernando Cunha no Congresso Nacional. Então isso é política. Política é plantar uma notinha aqui, uma notícia lá. O deputado está no papel dele de plantar essas notícias. Vai que cola, vai que ele vem para um partido grande.

 

Lucivan – O senhor acha que essa notícia foi plantada?

Sem dúvida nenhuma. Ninguém conversou com ninguém. O deputado me procurou dias depois me chamando para conversar. E eu sempre aberto, até porque tenho um carinho, um relacionamento muito bom com ele. Ficamos dois anos na Câmara Municipal de uma forma bem amistosa, bem tranquila. Acho que ele fez isso, mas não na maldade. É o jogo político neste momento. Você falou antes da entrevista que o PMN firmou apoio ao prefeito João Gomes (PT). Pode ter certeza que até a época das convenções, muita coisa vai mudar. E agora falo como analista político, não falo mais como pré-candidato, como candidato nas próximas eleições. E é assim que vou procurar desempenhar minha função até o final. Política está na veia, vocês sabem disso.

 

Lucivan – Hoje o político não está tendo tanta credibilidade. Não é hora de mudar isso?

Orisvaldo – Estamos acostumados a um partido falar algo hoje, depois semana que vem muda de opinião, depois novamente. E a gente acha isso normal. É por isso que os partidos estão em último lugar na credibilidade da sociedade. Não tem que mudar isso?

Infelizmente é o sistema que temos, mas a mudança parte do eleitor. Não adianta nada clamarmos por mudança se colocarmos sempre na vida pública os mesmos. Fazer mais do mesmo. Então há uma conveniência, até certa abertura por parte do eleitor. Acho que o cidadão precisa se revoltar com isso. Em 2016 é o primeiro passo. A eleição municipal é o caminho para daqui a dois anos, em 2018, para presidente da República. Compete ao eleitor mudar isso. Político não vai mudar. Eu que estou dentro da política, e saio agora, digo que a mudança é necessária. Até porque está provado que o atual sistema é fracassado.

 

Orisvaldo – A sua desistência, 100% foi por causa da família?

Minha decisão está tomada 110%: 100% por causa da minha família e 10% pela desilusão com a política. Torço para que Deus abençoe os eleitores anapolinos, a cidade de Anápolis, para que a gente consiga os melhores vereadores possíveis e o melhor prefeito, aquele que apresentar o melhor projeto para a cidade de Anápolis. Pelo menos para minha geração, sou nascido em 1981, estamos vivendo a maior crise da história deste País. Isso é público e notório. Então acho que chegou o momento da mudança e compete ao eleitor mudar. Teremos ao longo dessa campanha uma gama de 600 candidatos a vereador. Creio que entre quatro a seis candidatos a prefeito. Tem um leque bom para que o eleitor possa escolher. Torço do fundo do coração por uma boa escolha. Aqui que constitui e estou criando minha família. Que Deus abençoe para que possamos eleger os melhores quadros, para que a mudança comece a partir de 2016.

 

Lucivan – O PSDB deve lançar outro nome. Tendo um candidato, o senhor vai trabalhar para ele?

Muito recente minha desistência. Dentro do PSDB temos quadros bons, que estão lá e podem ser candidatos…

 

Orisvaldo – O deputado Alexandre Baldy, que tinha aberto mão da candidatura para apoiá-lo. É possível que ele volte atrás?

Aí é cunho pessoal. Ele abriu mão naquele momento em meu nome. Eu o comuniquei essa manhã da minha decisão e não o questionei sobre isso. Mas é de cunho pessoal. Além do deputado Alexandre Baldy, temos o Ridoval Chiareloto, que abriu mão pela minha candidatura, a ex-deputada Onaide Santillo, que tem um trabalho social muito grande em nossa cidade. Temos outros nomes de qualidade para vencer a eleição, o pastor Victor Hugo Queiroz, a vereadora Mirian Garcia.

 

Orisvaldo – Ouvi uma entrevista da ex-deputada Onaide Santillo, ela disse que não se deveria pensar só em nome, mas também em projeto. O PSDB não tem projeto para a cidade de Anápolis?

Quando assumi minha pré-candidatura, eu tomei uma posição clara, que era fazer seminários nos bairros para que a gente pudesse elaborar esse projeto, que seria apresentado na campanha.

 

Orisvaldo – Pergunto, pois fiquei encabulado. Tão perto da campanha e haver esse questionamento, que o PSDB não tem um projeto de administração para a cidade de Anápolis. Fiquei perplexo.

Agora compete aos membros do PSDB anapolino, e o novo nome escolhido pelo partido, apresentar este projeto e discutir com a sociedade. Não adianta tirar esse projeto do bolso do colete sem discutir com a sociedade. Eu acho também que o mais importante para a sociedade é um projeto palpável, factível, e não somente um nome. Eu creio que sem dúvida nenhuma a executiva do PSDB irá apresentar um nome com projeto para cidade.

 

Lucivan – A possível filiação do deputado Carlos Antonio é bem vista pelo diretório municipal?

Eu não sei, pois não conversei com ninguém a respeito dessa filiação. Quando veio a público essa pretensão dele de se filiar ao PSDB, ele não conversou comigo de imediato. Até porque eu estava sem telefone. Depois disso conversei com ele por mensagens. Como te disse, eu tenho o melhor relacionamento possível com o deputado. Ele entendeu muito bem o recado do governador Marconi Perillo, que não existe atropelo dentro do PSDB. E eu te falo assim abertamente: eu acho que o PSDB tem bons nomes, bons quadros e pode apresentar um projeto muito bom para a cidade de Anápolis, sem buscar em outras siglas.

 

Lucivan – Mas isso não fragiliza uma candidatura do PSDB?

Acho que não. O PSDB pode buscar outros nomes, se fortalecer. Se o deputado quiser compor uma chapa como vice, como candidato a vereador, ele é bem vindo. Agora na cabeça de chapa o PSDB tem grandes nomes. Torço para que isso ocorra. Mas a decisão não passará por mim. Isso é com o diretório municipal. Ainda tenho um mandato, vou continuar no PSDB até o fim do mandato, mas meu posicionamento é público, notório e claro. Encerro meu mandato com muito afinco, muito trabalho e muita dedicação, mas a partir de janeiro de 2017 minha vida terá novo rumo, novo norte.

 

Orisvaldo – Vejo que essa mudança abala o PSDB. E parece que todo ano de eleição acontece algo no partido que coloca em risco o projeto de assumir a prefeitura. De 2000 para cá, o PSDB não conseguiu vingar um projeto.

Concordo. Até acho que há tempo hábil de se apresentar um projeto. Em 2012, se não tivéssemos feito uma coligação na chapa proporcional, o PSDB não tinha nem eleito vereador. E o PSDB hoje está mais forte, tem bons quadros, e pode apresentar um projeto bom para a cidade de Anápolis. Creio que aprendemos com os erros, das mais variadas ordens. Creio que hoje a gente sai amadurecido disso tudo. Compete ao novo candidato ou candidata do partido apresentar um projeto, discutir com os membros, discutir com a sociedade, discutir com os partidos, formar uma grande aliança. Agora erramos muito ao longo dos tempos. Prova disso é que o governador Marconi Perillo sempre teve votações expressivas na cidade de Anápolis e infelizmente não transferiu isso ao seu candidato majoritário por erro do partido. Erros internos e externos.

 

 

 

 

 

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